quinta-feira, 31 de março de 2011

CAMUFLAGEM


A hortência é uma couve-flor disfarçada de azul.

DATAS COMEMORATIVAS

ALUGA-SE


 Casca vazia
A cigarra
Passa o ponto...

LAGOAS URBANAS

As poças d’água no asfalto esburacado – não, isto não é um protesto. É a seu modo, uma espécie de poema, que por sinal já saiu rimando... Fosse uma reclamação, eu a publicaria no Jornal da Bahia, na seção competente onde cada um exerce o direito da sua opinião privada sobre a coisa pública.

As poças d’água no asfalto, como eu ia dizendo, são, em meio ao tráfego congesto, o único esporte que resta ao viandante na contingência de lhes saltar por cima ou devidamente contorná-las. Há velhinhas – quem diria? – que sabem transpô-las com infinita graça, equilibrando no alto a sombrinha como a moça do arame no circo. Há gordos senhores pançudos, que o fazem cuidadosamente, eficientemente, com uma perfeição cronométrica,  que bem justifica o seu status. 

E há também os sujeitos nada pançudos, nada gordos, antes pelo contrário, e que nos fazem lembrar os “saltapocinhas” do passado. Quanto aos pescadores, desocupados e mentirosos, estes adoram as poças d’água... Nem é  necessário falar a seu respeito.

Uma verdadeira comunhão compulsiva com a natureza.

ELEFANTE SAFADO

Tô nem aí, tô nem aí...

TEMPOS DE CRIANÇA

Eu tenho um enorme ermo dentro do olho. Por motivo do ermo não fui um menino muito peralta. Agora tenho saudade do que não fui. Acho que o que faço agora é o que não pude fazer na infância. Faço outro tipo de peraltagem. Quando era criança eu deveria pular muro do vizinho para catar goiaba. Mas não havia vizinho. Em vez de peraltagem eu fazia solidão.

Brincava de fingir que pedra era lagarto. Que lata era navio, que sabugo era um bichinho danado e mal resolvido e igual a um filhote de gafanhoto.
Cresci brincando no chão, entre as formigas. De uma infância livre e sem comparamentos. Eu tinha mais comunhão com as coisas do que comparação.

Porque a gente fala a partir de ser criança, a gente faz comunhão: de um orvalho e sua aranha, de uma tarde e suas garças, de um pássaro e sua árvore. Então eu trago das minhas raízes crianceiras a visão comungante e oblíqua das coisas.

Eu sei dizer sem pudor que o escuro me ilumina. Eu tenho que essa visão oblíqua vem de eu ter sido criança em algum lugar perdido onde havia transfusão da natureza e comunhão com ela.

Era o menino e os bichinhos. Era o menino e o sol. Era o menino e o rio. Era o menino e as árvores.

quarta-feira, 30 de março de 2011

SOBRE POLÍTICOS

Eu só vou acreditar nos políticos quando eles se candidatarem, sabendo que vão ganhar salário mínimo, andar de ônibus, comer em marmita e bater ponto todo dia.


A EVOLUÇÃO DO FUSQUINHA


O B R A R


Naquele outono, de tarde, ao pé da roseira de minha avó, eu obrei. Minha avó não ralhou comigo. Obrar não era construir casa ou fazer obra de arte. Esse verbo tinha um dom diferente. Obrar seria o mesmo que cacarar. Sei que o verbo cacarar se aplica mais a passarinhos. Os passarinhos cacaram nas folhas, nos postes, nas pedras do rio e nas casas.

Eu só obrei no pé da roseira da minha avó. Mas ela não ralhou comigo. Ela disse que as roseiras estavam carecendo de esterco orgânico. E que as obras trazem força e beleza às flores. Por isso, para ajudar, andei a fazer obra nos canteiros da horta. Eu só queria dar força às cenouras e aos tomates.

A vó então quis aproveitar o feito para ensinar que o cago não é uma coisa desprezível. Eu tinha vontade de rir porque a vó contrariava os ensinos do pai. Minha avó, ela era transgressora.

No propósito ela me disse que até as mariposas gostavam de pousar nas obras verdes. Entendi que obras verdes seriam aquelas feitas no dia. Daí que também a vó me ensinou a não desprezar as coisas desprezíveis. E nem os seres desprezados.

DATAS COMEMORATIVAS

A DANÇA DA MUDANÇA

Tudo dança
Hospedado numa casa
Em mudança

MEU QUERIDO DIÁRIO

Por isso comecei a escrever o meu diário, que eu já devia ter começado desde os 7 anos. Mas nessa idade a gente só escreve babaquices, coisas assim: “A Adalgiza caminha como um saca-rolhas” ou “Pusemos na professora o apelido de Dona Programática”. 

Uma vez me fui com outros meninos e meninas que também tinham merecido uma visita pública ao Jardim Botânico, que me pareceu pequeno demais porque constava apenas de uma cúpula de vidro. Havia uma enorme fila de turistas e visitantes domingueiros. Lá dentro não era apenas ar condicionado, era um vento leve, quase uma brisa, nos explicou o professor. Uma brisa que agitava os cabelos da gente e as folhas da árvore. Sim, porque lá dentro só havia uma árvore, a única árvore do mundo e que se chamava simplesmente “a árvore”, pois não havia razão para a diferenciar de outras. Suas folhas se agitavam e tinham um cheiro verde. Não sei se me explico bem.

Não importa: este diário é secreto e será queimado publicamente com outros, de autoria de meninos da minha idade, quando atingirmos os 70 anos. 

Dona Programática nos explicou a necessidade desses diários porque, “para higiene da alma e preservação do indivíduo, todos têm direito a uma vida secreta, ao contrário do que acontecia nos tempos da Inquisição, da Censura, do Dr. Freud e dos entrevistadores jornalísticos.

Isto diz dona Programática. Mas o nosso professor de Redação, que não é tão cheio de coisas, diz que esses nossos diários secretos servem prá gente dizer besteiras só por escrito, em vez de as dizer em voz alta.

J A N T A R


Lá ia eu
todo exposto.
Aquele olhar
de garfo e faca.
Vendo
na mesa posta
minhas postagens em fatias.
E ouvindo dos visitantes
tristes e obscenas piadas macarrônicas.

terça-feira, 29 de março de 2011

PESQUISA DE OPINIÃO PÚBLICA

Quem é mais bandido?
Decida você.
O Congresso Nacional,
ou o P C C?

CORAÇÕES APAIXONADOS

PORQUE O CORAÇÃO TEM RAZÕES QUE A PRÓPRIA RAZÃO DESCONHECE...

ERA UMA VEZ

O sol nascente
Me fecha os olhos
Até eu virar japonês

UNS E OUTROS


Esses cachorros da rua, que nós aqui chamamos de vira-latas e cujo pedigree é do mais puro pout-pourri, capaz de enlouquecer qualquer genealogista canino – vocês já repararam como são alegres, espertos e afetuosos?
Só os de pura raça são graves, carrancudos e tristes como os faraós egípcios, os padres e os príncipes astecas.

ODEIO A IGREJA, NÃO JESUS!

Li essa semana um slogan bastante interessante que revela o quanto a igreja está em baixa nos últimos tempos: ODEIO A IGREJA, NÃO JESUS!

A lista abaixo relacionada é direcionada à igreja institucional, à igreja-empresarial, ao clube de entretenimento, assim falsificada e vendida ao poder do mundo. Não me refiro absolutamente à igreja verdadeira, ao remanescente fiel que muitas vezes está contido nessa igreja caricata dos nossos dias.

Compartilho aqui o sentimento de inconformismo de Davi quando disse a Deus: Não aborreço eu, Senhor, os que te aborrecem? E não abomino os que se levantam contra Ti? Aborreço-os com ódio consumado, para mim são inimigos de fato.

O que eu odeio em ti, igreja dos nosso tempos?

1. A TUA PRETENSÃO OSTENSIVA de te veres superior a tudo e a todos, e com esse orgulho besta e idiota, deixas de ser reconhecida como voz de Deus e agência do Reino no mundo. Ao contrário, deverias te afastar prá bem longe dessa vaidade satânica e cair em si, voltando a servir humildemente ao mundo ao qual foste enviada.

2. QUANDO INFLEXÍVEL, IMPÕES O DETESTÁVEL LEGALISMO COMO FORMA DE CAMINHADA CRISTÃ com regras insuportáveis que mantém teus membros eternamente cativos a infantilidade na fé, ao invés de conduzi-los à maturidade cristã, que alcança a essencial liberdade consciente e anda maduramente nas pegadas de Jesus de Nazaré.

3. A TUA CEGUEIRA REDUCIONISTA, que não discerne claramente o Reino além de tuas limitadas fronteiras, expandindo a visão para ver e aceitar outras formas de expressão, de serviço cristão, de culto e de obras que também glorificam a Deus e contribuem para a expansão do Reino na terra.

4. A TUA FORMA DE JULGAR SUMARIAMENTE as pessoas, se são merecedoras do céu ou do inferno, como se coubesse a ti essa prerrogativa divina de seleção. Deveria tu saber que essa é uma ação exclusiva de Deus.

5. A TUA DISCIPLINA CORRETIVA que sempre exclui e joga fora todo aquele que desgraçadamente tropeça por algum motivo, levando invariavelmente o “disciplinado” ao abandono, e ferido, a morrer a míngua.

6. A TUA FORMA ANTIBÍBLICA DE EVANGELIZAR, definindo prazo de mudança para as pessoas ”aceitarem Jesus”, exigindo uma conversão urgente e superficial baseada na adequação compulsória às regras de teus usos e costumes, e não na radical soberana transformação do Espírito Santo, de dentro para fora, e no livre tempo de Deus.

7. A TUA VISÃO MISSIONÁRIA/ EVANGELÍSTICA DISTORCIDA que em nome do “ide” retira as pessoas de suas áreas de convivência na sociedade onde exerciam posições estratégicas para alcançar seus semelhantes, para mantê-los circunscritos a área do templo, transformando-os em pessoas inativas ou em obreiros alienados que desconhecem o que se passa no mundo que os rodeiam.

8. O TEU ABUSO DE PODER arrastando milhares de PESSOAS SINCERAS, frágeis, crédulas, simplórias, despreparadas e desavisadas à exaustão, ao esgotamento, ao sofrimento, à decepção, e a se sentirem absolutamente usurpadas física, emocional, material e espiritualmente. Essas pobres vítimas do teu poder abusivo se tornam amargas e refratárias para o Evangelho para sempre, fechadas para qualquer possibilidade de pensarem em Deus ou em coisas relacionadas a ti.

9. A FORMA IMORAL COM QUE TEUS LÍDERES LIDAM COM AS FINANÇAS, manipulando o dinheiro que entra em teus cofres de forma irresponsável, desonesta, revelando que são subjugados pelo deus Mamon. Reproduzes pastores que amam posição, poder, e o dinheiro, tornando-os cheios de avareza e de ganância. ISSO TEM CAUSADO GRANDES ESCÂNDALOS E DANOS IRREVERSÍVEIS PARA O EVANGELHO, E TU ÉS DIRETAMENTE RESPONSÁVEL POR ISSO!

10. E por último, odeio quando MENTES, ASSEVARANDO QUE FORA DE TI, AS PESSOAS NÃO PODEM SOBREVIVER. Saiba que existem milhões e milhões de pessoas que nunca adentraram em teus átrios e mesmo assim oram, têm temor, discernimento, maturidade, ética, moral e dignidade, muitas vezes, mais apurados que teus pobres membros pretensiosos.

Sobretudo, há uma forma difícil, dolorida, mas possível, que pode mudar radicalmente esse quadro sombrio: TENS QUE PASSAR PELO PORTAL DO ARREPENDIMENTO. Com diria Jesus, Lembra-te de onde caíste e arrepende-te...

segunda-feira, 28 de março de 2011

VINGANÇA

Olhei um pouco o jardim e vi a pujança vingativa com que a tiririca e o carrapicho tinham expulsado os lírios e as begônias.

DATAS COMEMORATIVAS

DIA DO DIAGRAMADOR E DO REVISOR

LISTA OFICIAL DE COISAS QUE EU ODEIO

Eu odeio "Idealistas de Slogan". Nêgo que quer "passar sua mensagem" se valendo de jargões idiotas”.

Eu odeio "Preconceito Eufemista". Gente que acredita que, se fizer uma pequena ressalva, elimina o pré-julgamento da opinião. Ex: "Toni, veja bem, eu não sou preconceituoso. Mas pobre é tudo ladrão...".

Eu odeio "Vítimas das Circunstâncias". Gente que acha que, se acontece algo ruim, trata-se de uma grande injustiça cósmica, e não do resultado de suas ações anteriores.

Eu odeio a valorização do supérfluo. Quando o inútil vira diferencial. Como comprar um celular, e não outro, porque “sintoniza rádio AM”.

Eu odeio adeptos da Psicologia de Fila de Banco, que consiste em dizer que todos os problemas da psique humana são devidos a carência, necessidade de atenção, viadagem  e qualquer outro desses tópicos psicológicos de domínio público, que ninguém compreende na íntegra. Mas difunde.

Eu odeio amigo herdado, que é um apêndice osmótico e inconveniente da minha amizade com outra pessoa.

Eu odeio amizade vitalícia instantânea. Odeio quando gente que eu acabei de conhecer se transforma em amigo de infância.

Eu odeio argumentação baseada em "achismos". Quando opinião pessoal vira fato (resumindo: eu odeio a Wikipédia).

Eu odeio auto-piedade quase tanto quanto odeio auto-afirmação.

Eu odeio Consciência Ambiental incoerente e inútil. Tipo, quando enchem o saco pra separar o lixo por categorias em cidades que não fazem Coleta Seletiva. Só pro lixeiro jogar a droga toda no mesmo lugar, no fim das contas.

Eu odeio discussões morais baseadas em semântica. "Como assim você quer "pegar" a menina? Não se "pega" uma dama... Se CONQUISTA uma dama!". Grande coisa. Na prática, você come a guria do mesmo jeito (come não. "Faz amor").

Eu odeio falsa intimidade. Quando alguém anda comigo uma vez, por 10 minutos, e sai dizendo pra quem quiser ouvir "Nossa, eu e o Toni vamos prá VÁRIAS quebradas juntos! Saímos direto!".

Eu odeio fone branco de MP3. O que aconteceu com o tradicionalismo do preto? Daqui a pouco vai ser que nem carro: começaram a colorir a torto e a direito e olha o Fusca azul-geladeira aí...

Eu odeio gente "engraçadona", que sempre tem uma "nova" piadinha idiota na ponta da língua, e a põe em uso sem o menor pudor. "Ah, o Toni é um cara gente boa! Nunca foi preso à toa..." e afins.

Eu odeio gente alienada, imbecil e fora da realidade. 

Eu odeio gente arbitrária.

Eu odeio gente carente. Apesar de que, eu mesmo sou mais carente que a população de Serra Leoa, às vezes.

Eu odeio gente dogmática, que não consegue de jeito nenhum contestar algumas "verdades".

Eu odeio gente eufemista, que "pisa em ovos" (especialmente nos meus).

Eu odeio gente incoerente.

Eu odeio gente piegas, de opinião branda, previsível e inócua.

Eu odeio gente que empunha a Bandeira dos Excluídos ou que proclama frases de devoção e justiça imaculadas só porque é moralmente ético. Como se encher o saco abrandasse a fome na Somália ou conscientizasse os israelenses. Como se eu estivesse contribuindo pra desigualdade social só porque tenho MP3.

Eu odeio gente que guarda pão dentro da geladeira.

Eu odeio gente que me corta quando eu falo. 
Mesmo sendo eu faixa preta em interromper os outros.

Eu odeio gente que quer "salvar minha vida", com pedância e conselhos bestas de calendário da Seicho No Ie. Em geral, são perdedores que não dão conta nem dos seus próprios problemas.

Eu odeio gente que repete o final da piada que acabou de contar, inadvertidamente.

Eu odeio gente que “todo mundo gosta”. Quando me dizem “Toni, você precisa conhecer o Edmar! Todo mundo adora ele!”, tenho uma certeza prévia e incontestável de que vou odiar o Edmar.

Eu odeio gente sabida demais, que coleciona fragmentos de informação inútil – e possivelmente equivocada - a respeito de assuntos desinteressantes. "Coletores de Factóides".

Odeio chefe boçal e metido a besta.

Eu odeio gente sem noção que não consegue entender sutilezas, eufemismos e tensão no ar. O tipo de gente pra quem você tem que gritar “Cara, é CLARO que eu estou chateado! Você atropelou minha mãe com um caminhão de água sanitária!” e ainda ouvir um “Ei, não precisava ser grosseiro. Eu só te fiz uma pergunta...”.

Eu odeio joguinhos, chantagenzinhas e, principalmente, charminhos. Já inventaram lubrificante com sabor. Não é mais preciso fazer cu-doce.

Eu odeio Maluco. E coloco todos no mesmo saco. Desde os maconheiros bicho-grilo que não tomam banho até os barbudos reacionários que acham que Cuba é a Disneylândia. Tudo maluco.

Eu odeio modas e modismos.

CURTINDO BOB MARLEY

Hoje eu acordei meio indisposto, e resolvi curtir um som diferente pra poder mudar meu gosto indigesto. E me peguei assobiando aquela musica que eu adoro e que me emociona porque me lembra alguém que me fez bem, e depois me pôs na lona.

Fazer o quê? A gente cospe no prato que come prá depois querer comer no prato que cuspiu.
A vida continua e eu agora tô a mil, agora sou mais eu.

Mas prá ter liberdade de verdade eu aprendi a desaprender o que só me prendia...
Ouvi dizer que a vida recomeça a cada dia e aprendi essa piada. Depois talvez esqueça.

Precisava ouvir , ouvir e ouvir essa música pra lembrar que eu também sou gente.
E definitivamente, pode ser que o tempo mude!