quarta-feira, 1 de fevereiro de 2012

O ÚLTIMO DESEJO DE PEDRO JILÓ.


O pessoal encarregado da entrega se antecipou um pouco, e o caixão chegou ao casebre de Pedro Jiló enquanto este ainda estava vivo. Deitado no catre, o moribundo abriu um olho e, de imediato, se maravilhou: nunca tinha visto um caixão tão bonito, tão cheio de enfeites. A família também ficou contente: graças à generosidade do fazendeiro Tenório, que anos atrás doara aquele caixão, teriam um velório de ricos.

Mas isso não era suficiente para Pedro Jiló. Convocando os familiares para junto do leito, anunciou que tinha um pedido a fazer, em verdade, o seu derradeiro pedido:
-Quero ser enterrado nesse caixão.

O que gerou consternação. O filho mais velho disse que era impossível. A regra era clara: o caixão só para o velório; depois, teria que ser devolvido. Mas Pedro Jiló manteve-se irredutível. Pobre, sem terras nem bens, levava uma vida sacrificada. Ao menos na morte, queria passar bem. E para ele, passar bem, significava ser sepultado naquele caixão, não numa cova rasa.

A mulher tentou ainda argumentar que aquilo não era importante, que ele, de qualquer modo, iria para o céu.
-Pode ser – foi a resposta. –Mas quero chegar lá nesse caixão. E Pedro Jiló encerrou a conversa com uma declaração definitiva:
-Ou vocês me enterram nesse caixão, ou eu não morro.

E não morreu mesmo. Sustentado talvez pela teimosia, ele continua vivo, ainda que na condição de moribundo. Todos os dias pergunta se a família mudou de idéia. Todos os dias respondem que não é possível atender o seu pedido. E ele vai vivendo. Por quanto tempo ainda não se sabe.

O caixão é que talvez não dure. Apesar da aparência vistosa, era feita de madeira ordinária, carunchada. Indiferentes ao conflito, os bichinhos prosseguiam em sua tarefa – a natureza é implacável e já destruiu boa parte da urna funerária.

De modo que a questão se impõe: quem aguentará mais tempo? O caixão ou Pedro Jiló?