Eis que o Natal chegou outra vez. A grande roda do tempo, que todos os anos parte de um ponto estabelecido pelo homem, voltou e vai reiniciar-se. Na manjedoura simples um menino nasce e renasce a cada ciclo dos doze meses contados nos dedos, de janeiro a dezembro.
É um simbolismo do qual depende a criatura. As datas são necessárias e o tempo que volta traz dias de aproximação. Gente que se cumprimenta nos encontros fortuitos, nos elevadores dos prédios e nos corredores da vida: “Feliz Natal!”.
Exprimem um desejo que emerge nos corações escolhidos, porque muitos são os chamados, mas poucos se habilitam a esse exercício, antes de tudo humano, da convivência. Ou muitos não podem e não têm como participar da grande noite das festas. Estão excluídos dos convívios, marginais da harmoniosa coexistência.
Em casa já está pronta a sala de jantar. É sempre em torno de uma mesa que as festividades acontecem, repetindo o Cristo, que tantas vezes ceou com os seus apóstolos. Os cálices de vinho chegados da Espanha foram expostos e o negro das taças parece contrastar com o branco do móvel ou com o vermelho da toalha.
Em casa já está pronta a sala de jantar. É sempre em torno de uma mesa que as festividades acontecem, repetindo o Cristo, que tantas vezes ceou com os seus apóstolos. Os cálices de vinho chegados da Espanha foram expostos e o negro das taças parece contrastar com o branco do móvel ou com o vermelho da toalha.
Um vermelho estampado com motivos natalinos mesmo, com sinos dourados e com folhas verdes unidas por fitas encarnadas. Um bacalhau e um peru hão de fazer as vezes na refeição da meia-noite, sem falar no presunto ibérico, que veio das distâncias agora gélidas da antiga Castela ou nos acepipes doces com a mesma origem.
Antecipando o Natal, um coral infantil cantou em frente ao prédio, numa pequena pracinha, um refúgio como se diz, entoando cantatas próprias para os dias. E a sintonia fina da emissora de rádio faz um teste para um instante diferente de todos os outros.
Nos quartos as colchas novas, com alegres motivos, representam o júbilo da família com a chegada das duas filhas que moram distantes. Está reunida, outra vez, a constelação parental e a satisfação preenche os claros d’alma.
É o prazer de encontros e de reencontros que durante os dias comuns não se materializam. O corre-corre de um cotidiano buliçoso impede isso, o ver e o rever das filhas. Momento, todavia, que não acontecerá em inúmeros lares do Brasil.
Há quem nunca tenha podido se servir de um peru, como aquela senhora muito jovem, de 19 anos, moradora de um barraco sob o viaduto da Av Contorno. Mulher de marido desempregado, sem eira nem beira. A sua carta pendia na agência dos Correios do bairro, rogando ao Papai Noel que lhe contemplasse com um exemplar da ave natalina e mais, uma roupa que cobrisse o seu filho.
Queixava-se da fome de todos os dias e dizia que se aproximava um tempo diferente, o do nascimento do Deus-Menino, razão suficiente para não deixar de se alimentar como desejava. Teve a sua carta atendida, como sucedeu com outras, inclusive com aquela em que para 8 crianças de casa pedia-se uma bicicleta e um panetone. A questão só foi resolvida em parte e numa parte muito pequena de um todo de sofrimento e de privação.
Deus permita que as crianças de hoje possam crescer em paz, possam desfrutar de um futuro mais ameno e menos violento, preenchido com o básico das exigências humanas. A educação que enobrece, a saúde que dá a higidez do corpo e a serenidade da alma, a segurança que permite o ir e vir e a moradia, de cujo conforto – mínimo que seja – possa resultar a construção da cidadania salutar e do convívio pacato.
Deus permita que as crianças de hoje possam crescer em paz, possam desfrutar de um futuro mais ameno e menos violento, preenchido com o básico das exigências humanas. A educação que enobrece, a saúde que dá a higidez do corpo e a serenidade da alma, a segurança que permite o ir e vir e a moradia, de cujo conforto – mínimo que seja – possa resultar a construção da cidadania salutar e do convívio pacato.
Feliz Natal - 2011
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