quarta-feira, 30 de novembro de 2011

EU CRESCI...


E aprendi que os políticos são corruptos, que os adultos mentem e que os homens choram. 

Aprendi que a maior parte das grandes amizades acaba sem que percebamos. Aprendi que amor, não importa qual seja o tipo, sempre precisa de paciência para se manter sólido.

Aprendi que aparências enganam, mas podem dizer mais do que palavras, porém sempre menos do que atitudes.

Eu cresci e aprendi que preconceito é a pior e maior doença da humanidade. 

Aprendi que existem pessoas que matam e morrem por amor, quando o amor deveria ser a maior declaração de vida. Aprendi que algumas feridas nunca saram e que algumas lágrimas nunca secam. 

Aprendi que Curiosidade nada mais é que o nome de um remédio contra o tédio, e só matou o gato porque ele abusou da dose. Por falar nisso, aprendi que excessos sempre fazem mal.

Eu cresci e aprendi a assumir as consequências das minhas escolhas, sejam elas certas ou erradas.

Aprendi que algumas verdades não precisam ser ditas, mas mentir nunca é a melhor escolha. Aprendi que não importa o quanto você se importe, algumas pessoas simplesmente nunca vão se importar.

Aprendi a olhar para trás e rir de todas as vezes que chorei, não importa quão sério tenha sido o motivo.

Eu cresci e aprendi que escrever sobre o que eu aprendi só me faz pensar que eu ainda não aprendi nada.


terça-feira, 29 de novembro de 2011

MINHA NORMALISTA LINDA.


Sou do tempo do gasômetro e do bonde elétrico, do telefone cônico no ouvido e do largo bocal voltado às palavras de um interlocutor qualquer, que aos gritos deixava a sua mensagem, sem as sofisticações do hoje.

Das ligações para Boa Viagem intermediadas pela telefonista, atenciosa sempre, do Serviço de Informações Gerais - o SIG -, cujo número gravei na memória (102) e para o qual ligávamos, todos, à cata dos melhores filmes e das localizações urbanas das ruas e das avenidas, dos becos e das vielas ou à procura de uma conversa fiada assim, com a moça da empresa.

E a resposta vinha antecedida por um comercial, chamado de reclame ao tempo: "Num presente exclusivo das Pílulas de Vida do Doutor Rossi, o cinema Guarany exibe nesta tarde o desenho animado de Walter Disney: Peter Pan!". Mas, alertava a minha mãe, sempre, se alguém ligar e fizer uma pergunta - "Rins doentes?" -, não esqueça de responder: "Tome Urudonal e viva contente!". Havia prêmios, dizia ela, para quem acertasse! Nunca ouvi a indagação e muito menos conheci as benesses resultantes!

Ou sou do tempo em que o sabonete Phebo oferecia uma casa a quem fizesse uso do produto, trazendo escondida, nessas intimidades saponáceas, uma chave. Todos, então, cuidavam em passar no corpo, mais e mais, aquele escorregadio pretume, para encontrar a salvação da família inteira. 

Nunca soube, também, de penitente aquinhoado, brindado com essa riqueza, a da casa própria.

Vez ou outra, todavia, a marca Lever vinha à tona, o sabonete das estrelas, para que se pudesse cumprir o desiderato do devaneio, fantasiando-se no imaginário pueril Brigitte Bardot tomando um delicioso banho na Riviera Francesa. 

Quem colecionasse tampinhas de Coca-Cola podia ganhar um carro da marca Skoda ou geladeiras em quantidade. Uma dessas tampinhas, entretanto, tornou-se de tal forma difícil, que virou apelido de quem se julgava importante: G15. 

Até as marcas de sorvete agradavam ao consumidor, expondo nos palitos o direito a mais um picolé, Daqui, por exemplo, com o gostoso Tatá ou com o Saía-e-Blusa.

Na soverteria da Ribeira, a rapaziada fazia ponto, para assistir o desfile das moças do Colégio Eucarístico, de branco e encarnado, escuro e carregado ou para saborear o maracujá e o cajá virados em gelo de bom paladar. 

Lá pras bandas da rua do Príncipe, esquina com a Afonso Pena, partiam as meninas do Colégio Arquidiocesano de volta ao lar paterno, primeiro e derradeiro abrigo, na voz do poeta: “Vestida de azul e branco/Trazendo um sorriso franco...” ou como está no mesmo cancioneiro Mas, a normalista linda/Não pode casar ainda/Só depois que se formar..." 

Gente assim, bonita e faceira, de pele estirada, no viço da idade, de protundentes formas, preferentemente, tagarelando conversa! Saias rodadas, mesmo que plissadas ao rigor do ferro quente, dando graça ao requebrado das ancas, engrandecendo movimentos de lateralidade explícita!

Muitos amores nasceram nesse lero-lero das coisas, de um flerte qualquer no meio da rua ou no passeio e muitas dores ficaram nos ares, como evanescentes ardores dos começos!

O conquistador desvairado, entretanto, acomodado em seu Mustang, da cor do sangue, tirou de tantos o gosto da sedução, rodando a chave do carro no indicador da direita, nas alamedas do parque ou nas festas das igrejas. 

Aniquilou desejos que se encorparam pras bandas do novo edifício, o Vitória Régia, tomando de assalto a musa daquele prédio, Agnes de prenome! 

Encantou a gregos e a troianos – ela, a musa –, mas desencantou vontades, menos a do padre, cuja batina dormia no convento e ele nos sedutores braços de Agnes, aquela santa mulher de minha rua!



sábado, 26 de novembro de 2011

SOBRE 2.012.


Agora toda essa preocupação com o ano 2012! 

Só pode ser a velha mania ou a superstição da conta redonda. Se vocês estão lembrados, ao aproximar-se o ano 2.000 já se pensava que era o FIM DO MUNDO. Tanto que para adiantar o serviço, muitos se mataram antes.

Não sou nenhum Nostradamus, de modo que profetizei – que nunca se saberá, nunca se notará, nunca se verá o fim de coisa nenhuma. E isso simplesmente porque a vida é contínua.

E a transformação da cara do mundo é como a transformação da cara da gente, que muda tanto durante toda a vida – mas que, dia a dia, de ontem para hoje, de hoje para amanhã, sempre nos parece a mesma cara no espelho.

Deixemos, pois, o ano 2012 chegar imperceptivelmente como um outro ano qualquer.

O LADRÃO DE GALINHAS.


A tirar pela voz, aquele interlocutor de ocasião era novo, um jovem repórter interessado em colher dados a propósito dos impedimentos sociais de agora, diante da violência crescente e desenfreada. 

Em outras palavras: o que não se pode mais fazer em conseqüência do medo, do pavor que a sociedade enfrenta? Pedi um tempo e o endereço eletrônico, como cabe fazer na contemporaneidade, em vinte minutos, prometi, hei de responder. E respondi! 

Bastou uma reflexão curta sobre o ontem das coisas e o hoje do cotidiano, para encontrar as diferenças e nas vinte linhas das suas exigências: redigi o texto. Parece muito fácil a qualquer cinquentão fazer isso! 

As lembranças de um Salvador que se foi, embalado nas toadas de todas as saudades, facilitam declarações assim!

Ora, não se pode mais andar no centro urbano, fazer compras na Rua Chile ou passear – simplesmente passear – na velha Av Sete, voltar pela Carlos Gomes e apreciar da Praça Castro Alves o mar batendo lá em baixo e se desmanchando em ondas da imaginação, enchendo ou vazando.

Não se pode mais sentar no Terreiro de Jesus e admirar o desfile das moças, indo e vindo das compras ou esperando a sessão de cinema no Liceu. De um lado, o da rua daMisericórdia, as meninas casadoiras, umas comprometidas já e outras não, livres e desimpedidas, e do outro as que da vida viviam, vendendo o corpo e os amores. 

Metade cá e metade lá, como o imaginário da rapaziada, fantasiando vontades que eram desejos nem sempre realizados. Um sorvete na Gamboa ou um sanduíche na Padaria Confiança, na Praça da Sé, serviam para encerrar a tarde buliçosa. E haja sonhos!

O jeito é fugir de casa, correr para o campo ou se esconder na praia, estirar-se na rede ou sentar-se na espreguiçadeira e ao sabor da cerveja gelada ou do vinho à temperatura ambiente, fazer a opção entre um livro, um clássico da música e uma conversa a ser fiada em alpendre ventilado.

Até o Carnaval mudou, o corso acabou e as colombinas estão refugiadas nas grades de todos os medos, a lágrima do pierrô enxugou e não há mais arlequins saltitantes. Um ou outro bloco de rua se atreve em percorrer o centro, na sexta-feira gorda ou no sábado de Zé Pereira. Depois, recolhem-se!

No tempo do São João tornou-se impossível visitar os arrabaldes, passar nos largos e observar as quadrilhas matutas repetindo o dançar ritmado das cortes européias. 

Muito pior se o penitente saudosista, mesmo de carro, desejar conferir as fogueiras de Santo Amaro e os fogos coloridos que enfeitavam os céus da cidade vindos do Clube Português, onde muitos não podiam entrar, mas podiam ver, das calçadas do Parque Amorim, a beleza espraiada nos ares, dando cor à paz. 

As antigas carroças puxadas a cavalo, que traziam os noivos em noites assim, não circulam mais antecedendo o préstito e os pares estão desfeitos, separados para todo o sempre, pairam nas nuvens das recordações, como se fossem fantasmas de muitas lembranças. Sequer há retretas em palanquins de subúrbios!

As brincadeiras de meio de rua, o pega e o pega-soltou, o queimado e o garrafão estão proibidas às crianças.

Empinar papagaio e jogar uma pelada são atividades tangidas do imaginário infantil, mais do que ocupado com a Internet e os desenhos da televisão.

Ninguém sai de casa para apanhar manga, tirar oiti e recolher cajá ou a tamarindo caído do pé! O velocípede circula na sala dos apartamentos e de bicicleta não se vai mais ao colégio, tampouco a passeio nos entornos da moradia onde estava, recatada e reclusa, a musa da adolescência. 

As alamedas do Campo Grande vivem um silêncio que assusta os antigos amantes. Nem o senhor bem cuidado, de carro importado, da marca Skoda, com a mão esquerda estirada pra fora da janela, a tirar a aliança da denúncia, teria mais coragem de cortejar a jovem de longos cabelos, lisos e negros!

Sou do tempo do ladrão de galinhas e do batedor de carteiras! Tenho saudades do tudo, das cadeiras no portão e das casas escancaradas, dos retornos em grupo pelas ruas do Salvador, de antigos saraus e dos aniversários domésticos, dos assustados e das festas de bairro. Sou assim!