Aconteceu em Catu. Eu ia passando apressado, mas não pude deixar de notar aquela mulher tão elegante que ia à minha frente, com a sua cadelinha pela coleira.
Vestida num legg preto e calçando um par de tênis daqueles que segundo um amigo meu costumam custar o preço de uma cobertura em Copacabana, a mulher tinha o cabelo liso, muito bem cortado e evidentemente pintado com uma tinta de boa qualidade.
A cadela, de coleira de oncinha, também parecia recém saída do cabeleireiro. Seu pêlo, limpíssimo e esvoaçante, era cor de champanhe. A raça eu conhecia bem, pois tive um cãozinho desses quando criança. É uma raça que tinha quase desaparecido, mas agora parece estar votando à moda. Lulu da Pomerânia.
A elegância clean daquela dupla foi o que chamou a atenção, e como ambas, a mulher e a cachorrinha, andavam logo à minha frente, pude apreciá-las por um bom tempo.
Até que, de repente, alguma coisa pareceu chamar a atenção da Lulu. Ela começou a puxar a sua dona para o lado, esticando a guia, repuxando a coleira, mandando às favas toda aquela coreografia de andar ritmado, e não foi preciso muito tempo para que ficasse evidente a razão de seu interesse: era um cachorro deitado ao lado de uma mendiga.
Era um cão sarmento e sujo, de pêlo curto preto e branco, tendo no olho esquerdo uma mancha escura que lhe dava um aspecto de pirata do Caribe.
A cadelinha da Pomerânia, com todo o seu pedigree, parecia encantada pelo vira-lata. E não sossegou enquanto não puxou sua doma até o canto da calçada onde ele estava.
Logo os dois cachorros se viram focinho com focinho, abanando os rabos com grande animação. O interesse parecia cada vez maior. E foi quando as duas mulheres começavam a conversar.
De onde eu estava, não podia ouvir o que diziam, mas logo elas me pareceram muito calorosas uma com a outra. Não era um contato rápido entre uma pessoa caridosa e uma pedinte. Era um animado bate-papo em que as duas falavam e davam risada, como se fossem velhas amigas, a mendiga sentada no chão da calçada e a gostosa de pé à sua frente.
Enquanto eu observada aquela cena, ali, naquela calçada de Catu, aquelas mulheres tão diferentes, vivendo em mundos tão obviamente diferentes, continuavam conversando como se fossem velhas amigas.
O papo se alongou tanto que acabei indo embora, pois tinha um compromisso.
Mas fui pelo caminho pensando nessa coisa maravilhosa que são os animais em sua capacidade de aproximar e adoçar a vida dos seres humanos...
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