Moni tem uma espécie de luz quando caminha. É cristalina, um mar que a gente olha e vê o fundo, os seus olhos. Você não devia me enfeitiçar dessa maneira, com esse olhar de quem tem parte. Não devia. Dona do absurdo e de toda a fantasia. Mágica como um feitiço. Linda como um mistério. Não é coisa desse mundo. É uma fada com poderes secretos e perigosos, que desafia todas as leis da natureza.
De repente fica séria, profundíssimamente conhecedora, misturada com o sofrimento, marcada desde sempre pelo traço inconfundível da fatalidade. Subitamente tem um reino e todas as coisas lhe obedecem. E depois ri. Seu riso natural de água, de fogo, de graça, de malícia.
E eu te amo sem te ter por perto. Eu te amo do ponto mais fixo de mim mesmo. Sem a mais inútil alternativa. Eu te amo como um pedaço que me faz parte, como a metade de uma maçã ainda não contaminada pelo veneno que sai dos meus dentes. Você é a gata que eu amo, dona de todas as sabedorias. Um amor que ocupa a sala, se estende aos móveis e objetos, é líquido e disforme e por completo penetra nas coisas e elas compreendem. Um amor de cores tão brilhantes dentro da teia mansa emaranhada de seus cabelos.
E você entra nos meus sonhos sem palavras, com o corpo lento acariciando tudo o que flutua. Feitiço que brilha e me fascina. O mesmo sol que te queima, mora dentro de mim, o mesmo fio que te prende à terra, também me deixa preso. A mesma carne, a sua, é fraca em, mim, em mim que já sou feito das suas ânsias, de suas névoas, de seus sonhos, de sua saudade. O mesmo cheiro de seu corpo em minhas mãos, resiste ao vento de poeira. Ao tempo.
Ainda não sou seu, é certo, talvez um dia eu seja. Talvez te penetro em sonhos espaciais. Talvez você nem perceba. Talvez ainda nem saiba. Talvez eu seja o rio que te corre por cima, são minhas as águas que te deixam em pedaços.
Mergulhe com a pressa da paixão em meu oceano, e eu beijo a sua pele de amora impregnada da atmosfera que você habita. E te abrigo nos fundos da minha casa de caracol. Nos fundos da minha casa de caracol eu te abrigo. Prá te criar carne e coragem. Te criarei caprichosa, linda e sensual, nessa inocência que existe entre o ridículo e o mau gosto, nas fronteiras da carne, na extremidade dos nervos, nos vasos sanguíneos. Seu sangue correrá nas minhas veias. No meu coração ou nos meus rins. Serei sutil como uma cobra, te morderei a língua e a orelha, beijarei cada poro seu até o outro extremo do seu corpo.Te atravessarei flecha e lança até te penetrar célula por célula.
O tempo passa e eu te amo e te sufoco com palavras que esqueço sempre em algum lugar, te estrangulo com meus beijos, me emaranho em tuas teias, te esmago com meus abraços, meu amor...
E me esconderei como uma serpente em algum lugar seguro, bem juntinho de você, para que nada nos ameace. Ficaremos fechados durante a longa e escura noite, enorme período que se inicia e termina à maneira de um eclipse ou da luz de um vaga-lume. Formaremos anéis de Saturno e estudaremos a possibilidade de morar debaixo do solo numa linda casa de caracol, sob a influência de Vênus e ascendência de Marte, misturando letras com números e esses seus olhos lindos e maravilhosos.
E eu aprenderei a te amar com plantas subindo pelas grades da janela e a suportar a idéia de um dia atrás do outro nessa seqüência interminável, aprenderei a ouvir a música da noite e descobrir esse mistério manso e agreste do seu sorriso. Aprenderei a cultivar a terra com as mãos e sentir esse prazer como quem sente seu beijo. Sentir a terra molhada sob meus dentes com o mesmo prazer de morder a sua carne.
E eu comerei certas flores como se fossem borboletas e me entregarei nas formas mais lindas e estranhas, criando assim novos pecados e segredos. E você rirá com um sorriso antártico e metálico por me ver descobrir tantas malícias. E eu te farei crescer com os meus caprichos, com a mesma insensatez que me aflora a pele. Desenharei na sua carne coisas engraçadas, e aonde você for, levará a marca dos meus dentes.
E te amarei, e farei momentos lindos durante os silêncios em que a noite te penetrar pelas entranhas. Ficarei atento aos ruídos das paredes com o ar quente e selvagem de uma cobra, para te proteger dos fluídos, das correntes e das vibrações que existem na atmosfera. Serei de uma leveza incrível nos seus ombros, para te seguir até o mais profundo buraco do teu ser. Até o poro mais imperceptível... Até atingir todos os seus sonhos...Loucos...Queridos...e metálicos.
Nenhum comentário:
Postar um comentário