Quero ser o seu outono, a fruta que voce morde com desejo, com água na boca. O suco que escorre por sua boca, a polpa que penetra nos seus dentes, suculenta, quase louca. Fogo de paixão. Coração que te sacode e faz arder. Quero ser de origem profunda no teu ser, nascido de sua primeira aflição. Conhecedor.
Quero beijar a sua boca em silêncio, saber de seus vegetais internos, oceânicos, as folhas que te incorporam. Quero ser seus poros, suas veias, seus medos, seus sonhos, seu círculo de doçura e exorcismo, os gafanhotos que te dançam dentro e te queimam, o seu peso, a temperatura silenciosa da sua alma.
Quero te cair em cima sem parar nas noites de frio, te emprestar os passos e me submeter às suas sombras. Quero te despertar dos sonhos com sinos, encher o seu céu de planetas, te trazer água, te enfeitar e te enfeitiçar.
Quero preparar a sua cama com caracóis e cigarras, te vestir, te beijar cheia de sal. Te trazer dentro, te nadar dentro. Submerso. Quero te gritar de paxão e te pintar nas vidraças, e escrever o seu nome com sangue, com os dedos, com conchas do mar, te dar banho, beber o seu suor, te inventar histórias, te ver cheia de unhas e pestanas e sonhos e dentes e taras e beijos e desejos e temporais.
Quero desenhar a sua pele com cores brilhantes, com relâmpagos e estrelas e desenhar o seu destino na palma da minha mão. Quero me estender e te entender, te dar as galáxias de presente, te apertar, te beijar os pés, os seios, os braços, os rios, os ouvidos, o fogo, a língua e o umbigo, te penetrar onde voce se enconde, na fúria do seu peito, dentro das circunstâncias, nas suas meias, nas sua páginas e no seu espanto.
Quero te matar de rir e te matar de susto, e passear no seu corpo sentindo a sua umidade interna, te provocar e te enfrentar, te inventar surpresas, e te fazer cócegas e te manchar o peito, e te espinhar o corpo, caminhar pelos seus túneis de dentro e virar a sua cabeça.
Quero me apresentar em direção à noite, te levar para certos lugares, te fascinar, te cheirar a vinagre, te descansar no meu corpo, no meu hálito, na minha casa de caracol, te abrir as portas, te transportar a ilhas desertas, te navegar no fundo azul do oceano, para, sereia, te cobrir de espumas e beijos, e algas e corais, e de uma água viva feroz que devora tudo na escuridão atlântica.
Quero te fazer navegar, Moni, no fundo fosso do meu ser, até o mistério impenetrável e verde. Quero te absorver, te engolir, te amar, gatinha, até a última gota de vida dos meus poros, até meu último grito ou gemido, até morrer de frio.
Quero te amar, Moni, quero te amar frágil, pequena, cuidadosa, nas coisas mínimas, nas festas de março, nas minhas viagens, nos meus medos e nas chuvas. Quero soprar o seu coração prá que palpite, te seguir trêmulo, paralelo, obstinado, procurando suas mãos feitas de substâncias estranhamente divinas, que se misturam à atmosfera e me sufocam...
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