As poças d’água no asfalto esburacado – não, isto não é um protesto. É a seu modo, uma espécie de poema, que por sinal já saiu rimando... Fosse uma reclamação, eu a publicaria no Jornal da Bahia, na seção competente onde cada um exerce o direito da sua opinião privada sobre a coisa pública.
As poças d’água no asfalto, como eu ia dizendo, são, em meio ao tráfego congesto, o único esporte que resta ao viandante na contingência de lhes saltar por cima ou devidamente contorná-las. Há velhinhas – quem diria? – que sabem transpô-las com infinita graça, equilibrando no alto a sombrinha como a moça do arame no circo. Há gordos senhores pançudos, que o fazem cuidadosamente, eficientemente, com uma perfeição cronométrica, que bem justifica o seu status.
E há também os sujeitos nada pançudos, nada gordos, antes pelo contrário, e que nos fazem lembrar os “saltapocinhas” do passado. Quanto aos pescadores, desocupados e mentirosos, estes adoram as poças d’água... Nem é necessário falar a seu respeito.
Uma verdadeira comunhão compulsiva com a natureza.
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