domingo, 20 de março de 2011

TEORIA DO PONTO DE VISTA

Eu tive uma namorada que via errado. O que ela via, não era uma garça na beira do rio. O que ela via, era o rio na beira de uma garça. Ela despraticava as normas. Dizia que seu avesso era mais visível do que um poste. 

Com ela, as coisas tinham que mudar de comportamento. Aliás, ela me contou uma vez que tinha encontros diários com suas contradições. Acho que essa frequência nos desencontros ajudava o seu ver oblíquo.

Falou por acréscimo, que ela não contemplava as paisagens. Que eram as paisagens que a contemplavam. Chegou a ir ao oculista. Não era um defeito físico, falou o diagnóstico. Induziu que poderia ser uma disfunção da alma. Mas ela falou que a ciência não tem lógica. Porque viver não tem lógica.

Veja isto: Rimbaud botou a beleza nos joelhos e viu que a beleza é amarga. Tem lógica?

Também ela quis trocar por duas andorinhas os urubús que voavam na fazenda do seu avô. A fazenda do seu avô tinha virado uma praga de urubú. Ela queria trocar porque as andorinhas eram mais amoráveis e os urubús eram carniceiros. 

Ela não tinha certeza de que essa troca podia ser feita. O pai falou que verbalmente podia. Que era só despraticar as normas, no que eu concordei plenamente.

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