sábado, 19 de março de 2011

ESSA MINHA TIMIDEZ...

Timidez é pouco.
Eu era matuto mesmo. E dos brabos. Tinha vergonha de tudo e de todos.
E por muitos anos passei sufoco por causa desse acanhamento.
Na escola ficava vermelho só de ouvir meu nome na chamada da classe. Tinha vontade de participar da aula, responder às perguntas da professora, mas isso era um verdadeiro  tormento para mim. Parecia que todo o meu sangue era canalizado naquele momento para um único ponto do meu corpo. O meu rosto.
Isso resultou num apelido que eu, logicamente odiava. Camarão.
Algumas situações me travavam de tal maneira, que falhava o raciocínio e o resultado era sempre um vexame maior.
Adolescente, precisei pela primeira vez comprar preservativos. Foi uma odisséia.
Chegava numa farmácia, a atendente era mulher; eu com vergonha pedia Sonrisal. Na outra, tinha gente no balcão; eu com vergonha pedia Sonrisal. Na próxima, tinha alguém conhecido; eu com vergonha,  pedia Sonrisal.
Acabei comprando mais de dez envelopes de Sonrisal até conseguir comprar um pacote de camisinhas.
Com quase 20 anos, comecei a trabalhar num banco. Muito trabalho, a equipe sempre fazia horas extras e o banco fornecia refeições do melhor restaurante da cidade. Eu sempre dizia que não queria, que não estava com fome, etc.
O verdadeiro motivo? Eu não sabia comer direito de garfo e faca e tinha vergonha de comer de colher em público.
Um dia quase morri afogado por vergonha de dizer que não sabia nadar.
Foi assim.
Certa vez estava num balneário com uma paquera e ela sugeriu que fossemos para o outro lado do riacho. Ou atravessava a nado ou caminhava uma boa distância até uma ponte. Como não era fundo, ela preferiu ir nadando e me pediu pra levar a carteira de documentos e a carteira de cigarros dela.
Eu, com vergonha de dizer que não sabia nadar, encarei o desafio, imaginando que o riacho dava pé de um lado ao outro. Não dava.
Foi afogamento com direito a salva vidas e tudo. Perdi a carteira de documentos, a carteira de cigarros, a paquera e quase perco a vida junto.
Nesse dia percebi que ou eu acabava com a vergonha ou ela acabava comigo.
Com muita disciplina e depois de muitas situações embaraçosas acabei com ela.
Foi assim que fiquei um cara sem vergonha. Muito sem-vergonha.

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