O senhor não me arranja um trocado?, perguntou o esfarrapado garoto com um olhar pedinte. Outro daria o dinheiro ou seguiria adiante. Não ele. Não perderia aquela oportunidade de ensinar a um indigente uma lição preciosa:
- Não, jovem – respondeu -, não vou lhe dar dinheiro. Vou lhe dar uma coisa melhor do que dinheiro. Vou lhe transmitir um ensinamento. Olhe prá você e olhe prá mim. Você é pobre, você anda descalço, você decerto não tem o que comer. Eu estou bem vestido, moro bem, como bem. Você deve estar achando que isso é obra do destino. Pois não é. Sabe qual é a diferença entre nós, filho? O estudo. As estatísticas estão aí: o pobre estuda cinco anos menos do que o rico.
O menino o olhava, assombrado. Ele continuou:
- Pessoas como eu estudaram mais. Em média, cinco anos mais. Ou seja: passamos cinco anos a mais em cima dos livros. Cinco anos sem nos divertir, cinco anos queimando pestanas, cinco anos sofrendo na véspera dos exames. E sabe por quê, filho? Porque queríamos aprender. Aprender coisas como o Teorema de Pitágoras.
Você sabe o que é o Teorema de Pitágoras? Não, seguramente você não sabe o que é o Teorema de Pitágoras. Se você soubesse, eu não só lhe daria um trocado, eu lhe daria muito dinheiro, como homenagem a seu conhecimento. Mas você não sabe o que é o Teorema de Pitágoras, sabe?
- Não – disse o menino. E virando as costas foi embora.
Com o que ele ficou muito ofendido. O rapaz simplesmente não queria saber nada a respeito do Teorema de Pitágoras. Aliás – como era mesmo, o tal teorema? Era algo como o quadrado da hipotenusa é igual a soma do quadrado dos catetos. Ou: o quadrado do cateto é igual a soma dos quadrados da hipotenusa. Ou ainda, a hipotenusa dos quadrados é a soma dos catetos quadrados. Algo assim. Algo que só aqueles que têm cinco anos a mais de estudo conhecem...
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