Estas latas tem que perder, primeiramente, todos os ranços e artifícios da indústria que a produziu. Segundamente, elas têm que adoecer na terra. Adoecer de ferrugem e casca. Finalmente, só depois de trinta e quatro anos elas merecerão de ser chão.
Esse desmanche da natureza é doloroso e necessário se elas quiserem fazer parte da sociedade dos vermes.
Depois desse desmanche em natureza, as latas podem até namorar com as borboletas. Isso é muito comum.
Diferente de nós, as latas com o tempo rejuvenecem, se jogadas na terra. Chegam quase até de serem pousada de caracóis. As latas sabem que precisam chegar ao estágio de uma parede suja. Só assim serão procuradas pelos caracóis. Sabem muito bem, estas latas, que precisam da intimidade com o lodo obsceno das moscas.
Ainda elas precisam pensar de ter raízes. Para que possam obter caule e folhas. A fim de que um dia elas possam se oferecer às abelhas. Elas precisam de ser um ensaio de árvore a fim de comungar com a natureza.
O destino das latas pode também ser pedra. Elas hão de ser cobertas de limo e musgo. As latas precisam ganhar o prêmio de dar flores. Elas têm de participar dos passarinhos. Eu sempre desejei que as minhas latas tivessem aptidão para passarinhos. Como os rios têm, como as árvores têm.
Elas ficam muito orgulhosas quando passam do estágio de serem chutadas nas ruas para o estágio de poesia. Acho esse orgulho das latas muito justificável e até mesmo louvável.
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