Quem vê a folga em que vive a molecada de hoje, não pode fazer idéia de como a criança já foi há tempos atrás. Não tinha lugar de honra e não lhe era reservada a melhor parte. Também não se metia em conversa de gente grande. Se ficava quieta, ouvindo os adultos conversarem, logo alguém da roda mandava ir lá dentro buscar um copo de água ou dar algum recado.
O respeito aos mais velhos era uma tradição e tinha de ser manifestado pelas boas maneiras. Criança não tinha vontade. Sua função decorativa limitava-se a aparecer na sala de visitas por alguns breves minutos para umas gracinhas tradicionais, a qual, a vítima se desempenhava morrendo de vergonha ou timidez.
O menor suplício consistia em cumprimentar, reverente e amável, receber uns tapinhas nas bochechas e responder às perguntas de sempre: nome, idade, em que série está no colégio, o que vai ser quando crescer, etc.
Havia crianças que trabalhavam bastante, pois era costume educá-las desde cedo no amor de pequenas tarefas. Menina ajudava em casa e menino dava recados. Era uma antecipação de office-boy, supria a falta do telefone e de outros instrumentos de comunicação. Se trabalhava no balcão ou se ensaiava qualquer ofício, como aprendiz, jamais se falava em pagamento. Devia levantar as mãos para o céu e agradecer a oportunidade de aprender.
De um modo geral, as crianças arcavam com os deveres, e os direitos eram reservados aos adultos. Não é de se estranhar que todo garoto desejasse ardentemente crescer logo, libertar-se daquela terrível submissão, deixar para trás a escravidão da infância e ser gente grande, cidadão de primeira classe. Mas ninguém morria. Cresciam inteligentes, honestos, trabalhadores e educados.
Hoje, os tempos mudaram. Vulgarizou-se o conhecimento de uma psicologia idiota que elevou a molecada à categoria de “Deus”, colocando-a intocável num pedestal, sob pena até mesmo de prisão. “É preciso todo cuidado para não criar no menino sentimento de culpa”, falou certo psicólogo imbecil. Já nem se fala em castigo, pois a simples menção dele já é motivo para ação do Conselho Tutelar.
São criados soltos, sem rédea, freio ou educação. Verdadeiros delinqüentes infantis que não respeitam nada e nem ninguém. Autoridade é uma palavra banida do dicionário dos pais de hoje, que são considerados por eles retrógrados e que não sabem onde tem o nariz.
Mas a velha escola da vida, porém, costuma dar resultados práticos e imediatos. Foi o caso de uma gangue de delinqüentes infantis que atuava livremente dentro da igreja dos mórmons, atacando, dentre outras coisas e vez após vez, a minha indefesa motocicleta no estacionamento, e deixando nela, as marcas das suas atrocidades constantes e inconseqüentes.
Achando engraçado e com cara de bundão, todo mundo aceitava o império de terror imposto por esses projetos de marginais, enquanto que os pais desses verdadeiros vândalos mirins se orgulhavam, achavam perfeitamente normal e creditavam suas diabruras constantes e sem graça, ao excesso de energia acumulada.
Eis, porém, que ao encontrar três deles sozinhos no banheiro, apliquei de cara fechada, um beliscão caprichado, histórico e inesquecível em cada um, seguido de energéticos e calibrados safanões. Depois apontei para a água suja da privada e ameacei afogar nela os três, caso denunciassem aquele pacto forçado ou se insistissem em continuar infernizando a vida da minha pobre motocicleta.
O resultado foi surpreendente. Uma questão de psicologia prática e aplicada. Marginal tem que ser tratado como marginal, independente de tamanho ou idade. E ponto final. Viraram umas florzinhas, evitando, daí prá frente, cruzar o olhar com o meu e passando a vários metros de distância de mim e de minha aliviada motocicleta.
Neste caso, valeu o ditado popular que diz: “Quem não ouve sossega, ouve coitado”. É mais prático, rápido e eficiente exemplar do que compreender. Essa minha psicologia baseia-se no poder e eficácia cientificamente comprovada do beliscão. Ele é anterior a Freud, aos direitos humanos, aos estatutos da infância e da adolescência e outras baboseiras mais. E com certeza, surte o efeito desejado. “Quando os pais não educam em casa, a polícia educa na rua.” Tenho dito.
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