domingo, 20 de fevereiro de 2011

SÓ PALAVRAS

           Uso só palavras para compor os meus silêncios. Não gosto das palavras manjadas. Dou mais respeito às que vivem de barriga no chão, tipo água, pedra e sapo. Entendo bem o sotaque das águas. Dou mais respeito às coisas desimportantes e aos seres desimportantes.

          Prezo os insetos mais que os aviões. Prezo a velocidade das tartarugas mais do que a dos mísseis. Tenho em mim esse atraso de nascença. Eu fui aparelhado para gostar de passarinhos. E tenho abundância de ser feliz por isso.

          Meu quintal é maior do que o mundo. Sou um apanhador de desperdícios: amo os restos como as boas moscas.

          Queria que a minha voz tivesse um formato de canto, porque eu não sou da informática, eu sou da invencionática.

          Só uso a palavra para compor os meus silêncios.

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