sábado, 30 de julho de 2011

O GIGANTESCO OBJETO DO DESEJO.

-É uma pouca vergonha – exclamou a primeira senhora, num tom tão exaltado que as outras pessoas, no elegante restaurante, chegaram a se virar, mirando-a, surpresas e irritadas. Sem se importar, ela prosseguiu:
-É uma coisa sem nome, é o fim de toda a moralidade.

A segunda senhora, que sempre fora distraída, não sabia do que a outra estava falando.

-Mas você não leu o jornal? É essa história da tal camisinha gigante. Não ouviu falar? Mas você vive mesmo no mundo da lua, minha cara. Vou lhe mostrar. Abriu a bolsa, sacou dali um recorte de jornal e sacudiu-o no ar.

-Está aqui, prá quem quiser ver. Com todos os detalhes. Uma camisinha de mil metros de comprimento, minha cara. Não é um metro, não são dois metros. Mil metros! Um quilômetro. Dizem que é para alertar as pessoas contra a AIDS, mas a mim não enganam. Isso não passa de pura e simples safadeza. Sabe qual é a cidade, querida? A cidade onde fizeram a tal camisinha? É Cali. É, aquela mesma do Cartel de Cali. Para mim, quem financiou essa coisa monstruosa foram os traficantes. Gastaram U$ 13 mil. Mas para eles, deve ter sido um dinheiro muito bem empregado, porque isso ajuda a corromper os costumes e esse é o objetivo deles. Camisinha, drogas, é tudo a mesma coisa. Você não acha?

A outra não respondeu de imediato. Porque estava pensando. Pensando nas possibilidades. Não na camisinha, mas no pênis que ela poderia conter, o gigantesco, o quilométrico pênis. O pênis que, ereto, chegaria às nuvens. O grande pênis diante do qual se prostrariam, em silenciosa adoração, milhares e milhares de pessoas. Algumas tentariam cavalgá-lo, outras, mais afoitas tentariam escalá-lo, para chegar ao topo e de lá bradar bem alto, parafraseando Napoleão: “Do alto deste pênis, contempla-se a eternidade”. Ah! quantas possibilidades!

-Você não acha, insistiu a primeira senhora.

-Acho – respondeu, com um quase imperceptível suspiro. Há muito tempo aprendera a renunciar a seus sonhos e a concordar sempre com os outros.


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