A notícia segundo a qual um advogado baiano tinha instalado seu escritório na praia do Farol da Barra, gerou reações as mais contraditórias. Alguns acharam um absurdo. É uma pouca vergonha, uma falta de respeito. Onde é que já se viu praticar advocacia desta maneira? Outros acharam graça: coisa de baiano, foi um comentário que se ouviu bastante, especialmente dito por turistas.
Mas muitos ficaram pensando: será que o advogado da Barra não tinha razão? Será que ele não estava certo em mandar as convenções para o espaço, em benefício de uma vida mais livre e descontraída?
Não foi surpresa, portanto, quando próximo ao lugar onde o advogado atendia, apareceu uma barraca com uma pequena placa: “Escritório de Contabilidade”.
Logo depois surgiu um consultório médico e outro de psicologia. Em seguida foi a vez de um consultor de empresas e de uma agência de publicidade. A essa altura, as academias de ginástica já se multiplicavam.
O movimento, um verdadeiro movimento social organizado, contando inclusive com um lobby no Congresso, já não se restringia ao Farol da Barra, mas se propagava rapidamente por todas as praias da Capital. Das cidades interioranas vinham caravanas inteiras, carregando cartazes de apoio à vida na praia.
Em breve o litoral baiano, de norte a sul, estava todo ocupado por pessoas que, em trajes de praia, exerciam as mais diversas atividades. Todos tranquilos e bem bronzeados.
Tão bronzeados que pareciam índios. O que deu a algum estilista, a idéia de criar uma moda retrô com tangas, cocares e tacapes. O que só contribuiu para aumentar a descontração.
Estão todos na praia, portanto. Mas é com uma certa apreensão que eles olham para o mar. Temem que um dia apareça ao largo uma frota de caravelas e que um homem branquelo desembarque dizendo: Muito prazer, gente, meu nome é Pedro Álvares Cabral.
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