sexta-feira, 27 de maio de 2011

A ÁRVORE

Estático. Nada retorna quando o que passou nunca foi. Ter sido não significa nada. O que poderia ter sido, ou o que era pra ser, foi jamais.

Entenda o que digo: em todos esses anos que passaram, eu nunca de fato fui. A existência foi por mim. Você nunca teve medo de ter sido uma mentira? 

A cada dia nascemos, a cada noite morremos, mas o vento sopra em nós. Ser é um mistério que não ouso entender, mas compreendo. Compreendo agora, com minhas secas nervuras, já que ontem eu não era eu, e amanhã deixarei de ser o que sou, mesmo que aparentemente, sempre me seja.

O ontem é meu ancestral antigo. O anteontem uma nuvem que se dissipou. Que faço do eu que estou agora sendo? Os pés duros, fincados, a cabeça verde a balançar, dando-me a grave ilusão de movimento. E ventre do fruto mais bendito vermelho.

Deus me humilha com sua bondosa tolerância. Tento imitar Deus, tolerando-me: fracasso. Nunca serei Deus, eu que nem em Deus posso crer. Nem Eva, nem a maçã macia.

Eu sou a negra raiz de uma macieira secular que ignora a própria existência. Extático.

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