segunda-feira, 9 de maio de 2011

O PATINHO FEIO


Família é um tema complicado. Durante toda a sua infância, ela havia sido o patinho feio. Filha de um segundo casamento, caçula de 7, aprendeu que deveria ficar quieta. Sua existência incomodava a seus irmãos e primos.

Sempre desdenharam de tudo o que ela fazia. Sabia cantar, mas fora vista como uma criança chata que era colocada em um pedestal. Era inteligente, mas por várias vezes, duvidaram disso (e não fizeram segredo dessa dúvida). “Até fulano, que nunca estudou na vida, passou nessa faculdade”. E doía.

Aos poucos, ela foi reprimindo tudo o que era. Durante a maior parte do tempo, ela se anestesiava, por uma convivência pacífica. Mas às vezes, o choque com a realidade de que ela não era aceita ali vinha com força. E a fazia chorar.

A moça foi crescendo. Descobrindo novos mundos, novas pessoas. As porradas ainda vinham, mas como ela havia mudado de cidade, a atingiam somente de raspão.

Um dia, uma porrada dessas voltou a doer no peito. E nesse dia, ela resolveu não se calar. Devolveu, mas com classe. Ainda dói, caramba. Mas ela havia aprendido a falar.

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