terça-feira, 17 de maio de 2011

ENSAIO SOBRE OS SHOPPING CENTERS

Certo dia, resolvi ir a um dos Shoppings Centers de Salvador com o intuito de escrever, posteriormente, este texto. Por isso, a pressa e o olhar despercebido não me fizeram companhia. Observei tanto as coisas e o movimento das pessoas, que um dos seguranças do Shopping veio em minha direção e me disse:


- Posso ajudar em alguma coisa? Fique a vontade, mas saiba que estou de olho em você!


Nada respondi, apenas sorri! Diante do imprevisto, tomei distância do citado segurança, trajado de preto, portando um olhar ameaçador, e fui a outro local, no terceiro piso do prédio.
Diante desta situação, percebi que o Shopping não é lugar de gente à toa. Para permanecer ali, é preciso estar em movimento, olhando as mercadorias visando comprá-las. Mesmo que não as compre, é preciso passar a idéia de que vai comprar. É o que as pessoas fazem. Olham, tocam, perguntam, admiram, desejam e quando não podem comprar, sonham em comprar as coisas.


Para despertar o desejo das pessoas, as coisas precisam estar bem expostas e num colorido irresistível. Há uma exploração da beleza e da estética. Tudo parece perfeito, tudo combina com quem quer que seja. Numa loja de roupas, mal olhamos uma peça, o/a vendedor/a se aproxima e diz:


- Esta ficou linda em você! Foi feita pra você!


No Shopping as pessoas são bem recebidas e bem tratadas. É uma educação que, às vezes, nos causam impaciência. E quando o vendedor ganha comissão por produto vendido, a situação torna-se intolerável. Apelam desesperadamente! Há certa insistência nas vendas: as pessoas compram mesmo sem necessidade. É a lógica do mercado: às vezes, você não precisa de nada naquele dado momento, mas o mercado lhe convence de que precisa de tudo o que está exposto. É a força da propaganda, da publicidade; no ditado popular: “a alma do negócio!”.


Percebi que, ao entrar no Shopping, as pessoas perdem a noção do tempo. O tempo não existe! A satisfação dos desejos as transporta para uma realidade semelhante a do paraíso: tranqüilidade e paz perpétua. Não encontramos pessoas tristes no Shopping, todas estão sorrindo, alegres, aparentemente felizes. Há pessoas que diante do estresse e das obrigações impostas pela vida procuram um Shopping para relaxar. Muitas vezes, é melhor ir ao Shopping no domingo à noite. Há, também, aquelas pessoas e famílias que passam todo o domingo no Shopping, pois encontram de tudo para passar bem o dia.


No Shopping não há nada de natural, desde os produtos até o sorriso das pessoas, tudo é superficial. Há algumas plantas naturais sufocados pelas luzes artificiais e “estressadas” por estarem fora de seu habitat natural. Tudo é superficial e fabricado para durar pouco: a descartabilidade é característica fundamental na constituição do lugar. A alegria das pessoas, tanto do cliente quanto do vendedor, está em função do descartável. Ao sair do Shopping, as pessoas voltam ao peso do cotidiano e a alegria desaparece. Mesmo não comprando os produtos, alegremente, se satisfazem em observá-los na exposição fascinantes das vitrines.


Percebi, ainda, que é quase impossível as pessoas saírem do Shopping sem comprar alguma coisa. Tudo é facilitado. Há mercadorias para todas as classes sociais: pobres, médios e ricos podem e devem comprar. O cartão de crédito foi criado com este objetivo: levar as pessoas às compras. A tentação é tão grande que muitas pessoas se viciam em comprar, se endividando e perdendo o crédito no mercado. Com o cartão você não precisa levar dinheiro: ele vale dinheiro. Tudo se torna mais cômodo e seguro. A regra é facilitar a vida das pessoas. Quanto mais rico for o indivíduo mais consumista ele se torna.
Quem não compra nem vende não serve para o mercado, torna-se objeto descartável.


No Shopping há lugar para todos, ninguém é impedido de entrar: pobres e ricos, negros e brancos, bonitos e feios, religiosos e ateus, felizes e infelizes. O Shopping não tem preconceito para com as pessoas, há produtos para todos os gostos e para todo tipo de gente. Ao inventarem o Shopping, pensaram justamente nisso: num só lugar, oferecer um maior número de produtos e serviços. São tantos os produtos expostos de maneira inteligente e criativa, que as pessoas perdem, momentaneamente, a capacidade de reflexão e passam a acreditar em tudo o que está sendo dito e/ou oferecido. 


Vaidade das vaidades. Tudo é vaidade.

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